segunda-feira, 27 de agosto de 2007

O homem ideal

Continuação


Apesar de sentir uma inebriante felicidade, transpirara alegria por todos os poros e o seu olhar denunciar uma imensa satisfação interior, Maria tentou analisar o que acontecera no dia anterior o mais objectivamente possível, de modo cauteloso e ponderado, contrariando o seu espírito que, amiúde, vagava pelas recordações daquela noite memorável…

- Nem que tenha sido a primeira e a última, valeu a pena! (dizia para com os seus botões, sorrindo).

E sentia, de novo, o sabor dos seus beijos, o calor da sua pele, o aconchego dos seus braços. Imagens tão intensas que pareciam reais. Memórias tão insistentes que até já começavam a incomodá-la por lhe começar a parecer impossível deixar de pensar nele e no prazer partilhado.

Invadia-a uma sensação de bem-estar mas, também, uma grande insegurança motivada pelo medo de não conseguir controlar os sentimentos. E isso assustava-a.

Talvez tudo não tivesse passado de um grande equívoco, fruto ocasional do destino que os juntara no momento certo. Pensava.

- Qual destino, qual treta, ele até chegou a confessar que, ainda de férias lhe ocorrera dar uma "queca" comigo. Terá pensado: «Coitada da Maria, qualquer dia perde-lhe o gosto. Quando chegar a Almada logo se vê – das duas uma, ou ela corre comigo ou, quem sabe? Vou experimentar avançar e "seja o que deus quiser"».

Maria continuava o diálogo consigo mesma. - Mas, se estamos ambos disponíveis, é um desperdício não aproveitar "a coisa"…

Aliás, agora que pensava nisso, logo desde que o conhecera, Maria notara-lhe no olhar aquela malícia que esconde uma certa atracção, embora de início quase nem se falassem. Ingénua fora ela que nunca se apercebera de nada!

Como pertenciam ao mesmo círculo de amigos, os laços de amizade foram-se estreitando e, olhando-o dessa perspectiva, deixou de pensar que seria possível algo mais. Até porque ele andava, então, envolvido com outra rapariga do grupo.

Regressando ao presente, tivesse ele sido induzido ou não, com mais ou menos empurrãozinho intencional, o certo é que haviam acabado por se surpreender com o resultado do encontro – nenhum dos dois esperava combinar tão bem a nível sexual e muito menos que o entendimento físico fosse de tal modo gratificante que transcendesse o mero acto carnal da união entre dois corpos.

No entanto, na antevéspera, Maria nem sequer imaginava que fosse possível acontecer algo semelhante. Divorciada há cerca de três anos, e depois do luto da anterior relação (que durara quase duas décadas), estava usufruindo de uma liberdade emocional que a deixava sem vontade de se envolver com outra pessoa.

A sua figura, todavia, nunca lhe fora indiferente e sempre o achara muito atraente. O seu "tipo de homem": de tez morena, olhos castanhos, um sorriso maroto e uma voz muito sensual, numa combinação perfeita com uma personalidade forte, invulgarmente cordial, com um sentido de humor mordaz, muito franco e directo, conjugado com um carácter rebelde e determinado, inteligente e sensível, realista mas, também, um idealista convicto, muitíssimo teimoso mas um óptimo companheiro, divertido e simpático, com quem se podia passar horas muito agradáveis fosse a discutir política ou a contar anedotas. Realizado profissionalmente e com uma vasta cultura geral, que sabia apreciar música e gostava de poesia. Apenas com um senão: um irritante toque de snobismo que, às vezes, o fazia ser extremamente desagradável. Apesar disso, enfim... um homem muito, muito interessante mesmo.

Continua...


Imagem. retirada DAQUI.

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