Imagem: escultura cerâmica de Gregório Gruber.
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
terça-feira, 11 de setembro de 2007
Recordações
«É curioso como certas pessoas se acomodam assim na vida! Não gostam das coisas no momento em que as vivem, porque deixaram de gostar do que gostaram. Todavia, não as conseguem rejeitar. Vivem sustentadas pela recordação. Preferem reviver o que viveram, ou até fingir o que gostariam de ter vivido...». Margarida Afonso, in A Música do Tempo.
Imagem: quadro de Cris Nunes (acrílico sobre tela, 1997).
segunda-feira, 10 de setembro de 2007
Amor oculto
Amantes que somos e que nos sentimos
de amor oculto, mas a peito aberto,
esperamos dor naquilo que assumimos,
- o sonho recusado e tão incerto.
E se apesar de tudo conseguimos
viver amor e ter o longe perto,
aqui nos confessamos e pedimos
amor oculto, mas a peito aberto.
Poema: Amadeu Teles Marques, in A dimensão medida.
quinta-feira, 6 de setembro de 2007
segunda-feira, 3 de setembro de 2007
domingo, 2 de setembro de 2007
A entrega
"Sem entrega, tudo é vivido à superfície, na medida em que não há intervenção do que, no fundo, nos habita: sentimentos, necessidades, anseios, desejos, vulnerabilidades..."
"Não pode ser mais do que aparente a alegria de uma vida que se limita a satisfazer-nos desejos superficiais imediatos ou de carácter material - por eufórica que seja a forma pela qual se exteriorize. Pode apenas dar-nos a ilusão de que nada nos falta de importante.»
Maria José Costa Félix, in «O medo da entrega»
Revista X, de 23-09-2000
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
Rio de Nuvens
terça-feira, 28 de agosto de 2007
Onicofagia
Este palavrão serve para designar o singular hábito de… não imaginam? Roer as unhas!
Segundo os especialistas, quem tem o vício de roer as unhas (por vezes até sangrarem - o que alguns consideram uma forma de masoquismo) – os onicófagos – fá-lo por diversos motivos que vão desde uma cólera reprimida e inconsciente contra si próprio, insegurança pessoal, nervosismo e ansiedade, etc.
Dizem que é um acto compulsivo que tem as suas raízes num qualquer distúrbio afectivo ou psíquico, casual ou permanente, mas também há quem se queixe que, mesmo não estando afectado por qualquer desses sintomas, nomeadamente ansiedade, continue a roer as unhas… é sempre, contudo, um reflexo condicionado que são incapazes de controlar.
Infelizmente, apesar de ser inestético e indício de um problema de saúde psíquica, um comportamento bastante comum em crianças e adultos, de ambos os sexos, difícil de tratar (só a força de vontade é insuficiente) e que a mim, pessoalmente, me repugna, chegando mesmo a causar náuseas só de observar alguém a fazê-lo.
Segundo os especialistas, quem tem o vício de roer as unhas (por vezes até sangrarem - o que alguns consideram uma forma de masoquismo) – os onicófagos – fá-lo por diversos motivos que vão desde uma cólera reprimida e inconsciente contra si próprio, insegurança pessoal, nervosismo e ansiedade, etc.
Dizem que é um acto compulsivo que tem as suas raízes num qualquer distúrbio afectivo ou psíquico, casual ou permanente, mas também há quem se queixe que, mesmo não estando afectado por qualquer desses sintomas, nomeadamente ansiedade, continue a roer as unhas… é sempre, contudo, um reflexo condicionado que são incapazes de controlar.
Infelizmente, apesar de ser inestético e indício de um problema de saúde psíquica, um comportamento bastante comum em crianças e adultos, de ambos os sexos, difícil de tratar (só a força de vontade é insuficiente) e que a mim, pessoalmente, me repugna, chegando mesmo a causar náuseas só de observar alguém a fazê-lo.
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
O homem ideal
Continuação
Apesar de sentir uma inebriante felicidade, transpirara alegria por todos os poros e o seu olhar denunciar uma imensa satisfação interior, Maria tentou analisar o que acontecera no dia anterior o mais objectivamente possível, de modo cauteloso e ponderado, contrariando o seu espírito que, amiúde, vagava pelas recordações daquela noite memorável…
- Nem que tenha sido a primeira e a última, valeu a pena! (dizia para com os seus botões, sorrindo).
E sentia, de novo, o sabor dos seus beijos, o calor da sua pele, o aconchego dos seus braços. Imagens tão intensas que pareciam reais. Memórias tão insistentes que até já começavam a incomodá-la por lhe começar a parecer impossível deixar de pensar nele e no prazer partilhado.
Invadia-a uma sensação de bem-estar mas, também, uma grande insegurança motivada pelo medo de não conseguir controlar os sentimentos. E isso assustava-a.
Talvez tudo não tivesse passado de um grande equívoco, fruto ocasional do destino que os juntara no momento certo. Pensava.
- Qual destino, qual treta, ele até chegou a confessar que, ainda de férias lhe ocorrera dar uma "queca" comigo. Terá pensado: «Coitada da Maria, qualquer dia perde-lhe o gosto. Quando chegar a Almada logo se vê – das duas uma, ou ela corre comigo ou, quem sabe? Vou experimentar avançar e "seja o que deus quiser"».
Maria continuava o diálogo consigo mesma. - Mas, se estamos ambos disponíveis, é um desperdício não aproveitar "a coisa"…
Aliás, agora que pensava nisso, logo desde que o conhecera, Maria notara-lhe no olhar aquela malícia que esconde uma certa atracção, embora de início quase nem se falassem. Ingénua fora ela que nunca se apercebera de nada!
Como pertenciam ao mesmo círculo de amigos, os laços de amizade foram-se estreitando e, olhando-o dessa perspectiva, deixou de pensar que seria possível algo mais. Até porque ele andava, então, envolvido com outra rapariga do grupo.
Regressando ao presente, tivesse ele sido induzido ou não, com mais ou menos empurrãozinho intencional, o certo é que haviam acabado por se surpreender com o resultado do encontro – nenhum dos dois esperava combinar tão bem a nível sexual e muito menos que o entendimento físico fosse de tal modo gratificante que transcendesse o mero acto carnal da união entre dois corpos.
No entanto, na antevéspera, Maria nem sequer imaginava que fosse possível acontecer algo semelhante. Divorciada há cerca de três anos, e depois do luto da anterior relação (que durara quase duas décadas), estava usufruindo de uma liberdade emocional que a deixava sem vontade de se envolver com outra pessoa.
A sua figura, todavia, nunca lhe fora indiferente e sempre o achara muito atraente. O seu "tipo de homem": de tez morena, olhos castanhos, um sorriso maroto e uma voz muito sensual, numa combinação perfeita com uma personalidade forte, invulgarmente cordial, com um sentido de humor mordaz, muito franco e directo, conjugado com um carácter rebelde e determinado, inteligente e sensível, realista mas, também, um idealista convicto, muitíssimo teimoso mas um óptimo companheiro, divertido e simpático, com quem se podia passar horas muito agradáveis fosse a discutir política ou a contar anedotas. Realizado profissionalmente e com uma vasta cultura geral, que sabia apreciar música e gostava de poesia. Apenas com um senão: um irritante toque de snobismo que, às vezes, o fazia ser extremamente desagradável. Apesar disso, enfim... um homem muito, muito interessante mesmo.
Continua...
Apesar de sentir uma inebriante felicidade, transpirara alegria por todos os poros e o seu olhar denunciar uma imensa satisfação interior, Maria tentou analisar o que acontecera no dia anterior o mais objectivamente possível, de modo cauteloso e ponderado, contrariando o seu espírito que, amiúde, vagava pelas recordações daquela noite memorável…
- Nem que tenha sido a primeira e a última, valeu a pena! (dizia para com os seus botões, sorrindo).
E sentia, de novo, o sabor dos seus beijos, o calor da sua pele, o aconchego dos seus braços. Imagens tão intensas que pareciam reais. Memórias tão insistentes que até já começavam a incomodá-la por lhe começar a parecer impossível deixar de pensar nele e no prazer partilhado.
Invadia-a uma sensação de bem-estar mas, também, uma grande insegurança motivada pelo medo de não conseguir controlar os sentimentos. E isso assustava-a.
Talvez tudo não tivesse passado de um grande equívoco, fruto ocasional do destino que os juntara no momento certo. Pensava.
- Qual destino, qual treta, ele até chegou a confessar que, ainda de férias lhe ocorrera dar uma "queca" comigo. Terá pensado: «Coitada da Maria, qualquer dia perde-lhe o gosto. Quando chegar a Almada logo se vê – das duas uma, ou ela corre comigo ou, quem sabe? Vou experimentar avançar e "seja o que deus quiser"».
Maria continuava o diálogo consigo mesma. - Mas, se estamos ambos disponíveis, é um desperdício não aproveitar "a coisa"…
Aliás, agora que pensava nisso, logo desde que o conhecera, Maria notara-lhe no olhar aquela malícia que esconde uma certa atracção, embora de início quase nem se falassem. Ingénua fora ela que nunca se apercebera de nada!
Como pertenciam ao mesmo círculo de amigos, os laços de amizade foram-se estreitando e, olhando-o dessa perspectiva, deixou de pensar que seria possível algo mais. Até porque ele andava, então, envolvido com outra rapariga do grupo.
Regressando ao presente, tivesse ele sido induzido ou não, com mais ou menos empurrãozinho intencional, o certo é que haviam acabado por se surpreender com o resultado do encontro – nenhum dos dois esperava combinar tão bem a nível sexual e muito menos que o entendimento físico fosse de tal modo gratificante que transcendesse o mero acto carnal da união entre dois corpos.
No entanto, na antevéspera, Maria nem sequer imaginava que fosse possível acontecer algo semelhante. Divorciada há cerca de três anos, e depois do luto da anterior relação (que durara quase duas décadas), estava usufruindo de uma liberdade emocional que a deixava sem vontade de se envolver com outra pessoa.
A sua figura, todavia, nunca lhe fora indiferente e sempre o achara muito atraente. O seu "tipo de homem": de tez morena, olhos castanhos, um sorriso maroto e uma voz muito sensual, numa combinação perfeita com uma personalidade forte, invulgarmente cordial, com um sentido de humor mordaz, muito franco e directo, conjugado com um carácter rebelde e determinado, inteligente e sensível, realista mas, também, um idealista convicto, muitíssimo teimoso mas um óptimo companheiro, divertido e simpático, com quem se podia passar horas muito agradáveis fosse a discutir política ou a contar anedotas. Realizado profissionalmente e com uma vasta cultura geral, que sabia apreciar música e gostava de poesia. Apenas com um senão: um irritante toque de snobismo que, às vezes, o fazia ser extremamente desagradável. Apesar disso, enfim... um homem muito, muito interessante mesmo.
Continua...
domingo, 26 de agosto de 2007
sábado, 25 de agosto de 2007
sexta-feira, 24 de agosto de 2007
Dependências
Não costumo ler esta revista (considero a sua linha editorial demasiado "à direita" para o meu gosto). Mas ontem, à falta de outras opções para me entreter enquanto esperava a minha vez no cabeleireiro comprei-a no quiosque em frente ao salão, porque a manchete da capa me chamou a atenção.
Trago-a aqui, não para conversar sobre o conteúdo da reportagem (cujo título é bem elucidativo) – um tema que mereceria uma reflexão séria e profunda, eu sei (mas que não é o objectivo deste espaço) – mas para vos falar do meu medo das dependências, sejam elas droga, vinho, doces, jogo, café, afectos, comida, medicamentos, etc. etc.
Os comportamentos aditivos assustam-me. Perder o controlo sobre os meus actos é algo que me apavora. Só de pensar que posso vir a ter de viver em função de uma qualquer dependência deixa-me completamente angustiada.
A coisa é de tal ordem que sempre que noto em mim um vislumbre de actos compulsivos, prenúncio de uma eventual tendência para ficar subjugada a um qualquer prazer, perco o interesse pelo objecto da minha sedução e, durante uns tempos, foco o interesse da minha atenção noutra coisa que me dê satisfação equivalente.
Por exemplo:
Desde criança que gosto imenso de ler. Os livros são o meu natural refúgio contra as crises de identidade, os desgostos amorosos ou os males da vida em geral.
Neles me encontro e fortaleço. Com eles sinto-me sempre acompanhada. Por isso, leio enquanto tomo o pequeno-almoço em casa ou no café, nos transportes públicos entre casa/trabalho e vice-versa, esteja sentada num jardim, na praia ou numa esplanada a descansar, até na fila à espera de ser atendida no supermercado, nas Finanças e por aí adiante…
Geralmente, fico doente se vou fazer uma viagem e não levo um livro (é ponto assente que tenho de passar na livraria mais próxima e comprar um), aborreço-me sobremaneira se saio de casa e me esqueci (ao trocar de mala) daquele que estou a ler no momento. Sinto um vazio inexplicável, uma dor no peito…
Todavia, de vez em quando resolvo ficar uma temporada sem ler. Recuso-me, ostensivamente, a sair acompanhada de um livro. Nem em jornais pego. É como se ganhasse uma aversão às letras de outros. E viro-me, então, para a música ou para a escrita (prosa ou poesia), duas outras coisas que me dão, igualmente, muito prazer. Mas, principalmente, gosto de ficar a "sonhar de olhos abertos"…
Louca? Talvez! Pouco me importa. Sou feliz assim.
Trago-a aqui, não para conversar sobre o conteúdo da reportagem (cujo título é bem elucidativo) – um tema que mereceria uma reflexão séria e profunda, eu sei (mas que não é o objectivo deste espaço) – mas para vos falar do meu medo das dependências, sejam elas droga, vinho, doces, jogo, café, afectos, comida, medicamentos, etc. etc.
Os comportamentos aditivos assustam-me. Perder o controlo sobre os meus actos é algo que me apavora. Só de pensar que posso vir a ter de viver em função de uma qualquer dependência deixa-me completamente angustiada.
A coisa é de tal ordem que sempre que noto em mim um vislumbre de actos compulsivos, prenúncio de uma eventual tendência para ficar subjugada a um qualquer prazer, perco o interesse pelo objecto da minha sedução e, durante uns tempos, foco o interesse da minha atenção noutra coisa que me dê satisfação equivalente.
Por exemplo:
Desde criança que gosto imenso de ler. Os livros são o meu natural refúgio contra as crises de identidade, os desgostos amorosos ou os males da vida em geral.
Neles me encontro e fortaleço. Com eles sinto-me sempre acompanhada. Por isso, leio enquanto tomo o pequeno-almoço em casa ou no café, nos transportes públicos entre casa/trabalho e vice-versa, esteja sentada num jardim, na praia ou numa esplanada a descansar, até na fila à espera de ser atendida no supermercado, nas Finanças e por aí adiante…
Geralmente, fico doente se vou fazer uma viagem e não levo um livro (é ponto assente que tenho de passar na livraria mais próxima e comprar um), aborreço-me sobremaneira se saio de casa e me esqueci (ao trocar de mala) daquele que estou a ler no momento. Sinto um vazio inexplicável, uma dor no peito…
Todavia, de vez em quando resolvo ficar uma temporada sem ler. Recuso-me, ostensivamente, a sair acompanhada de um livro. Nem em jornais pego. É como se ganhasse uma aversão às letras de outros. E viro-me, então, para a música ou para a escrita (prosa ou poesia), duas outras coisas que me dão, igualmente, muito prazer. Mas, principalmente, gosto de ficar a "sonhar de olhos abertos"…
Louca? Talvez! Pouco me importa. Sou feliz assim.
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
Meias-verdades
Meias-verdades. Ou verdades com máscara de enganos. Mentiras disfarçadas. Tão só e apenas: verdades incompletas... É algo que detesto. Sobretudo quando quem as diz se considera muito frontal. Pior, ainda, quando acha que age esse é um comportamento honesto, sem perceber as inúmeras confusões que acaba por gerar em virtude de nunca se explicar de forma clara, induzindo os outros a emitir opiniões desviadas do cerne da questão principal, porque baseadas em pressupostos errados, e, em consequência, acabando por formular juízos que não correspondem aos factos em análise.
Ou seja, o x do problema resume-se à falta de consideração, quiçá de confiança, que algumas pessoas depositam nos outros e, por isso, as classificam como sendo indignas de merecerem quaisquer explicações sobre os seus actos.
Todavia, estes incondicionais amantes da liberdade, que gostam de dizer-se seus acérrimos defensores, que insistem em afirmar que têm o direito de agir sem prestar contas a ninguém, que se declaram muito ofendidos quando se pergunta as razões que os movem ou o porquê das suas atitudes, acabam por, ao preferir mentir ou contar meias-verdades, julgando que, assim, se protegem das ingerências externas nas suas vidas privadas (esquecendo-se que, caso não sejam eremitas, o público e o privado - não o íntimo, obviamente - têm uma fronteira muito ténue), acabam, dizia eu, por incorrer numa das maiores faltas de carácter que eu conheço: a desonestidade para consigo próprios que acarreta, também, o desrespeito pela integridade dos sentimentos daqueles que os rodeiam.
Ou seja, o x do problema resume-se à falta de consideração, quiçá de confiança, que algumas pessoas depositam nos outros e, por isso, as classificam como sendo indignas de merecerem quaisquer explicações sobre os seus actos.
Todavia, estes incondicionais amantes da liberdade, que gostam de dizer-se seus acérrimos defensores, que insistem em afirmar que têm o direito de agir sem prestar contas a ninguém, que se declaram muito ofendidos quando se pergunta as razões que os movem ou o porquê das suas atitudes, acabam por, ao preferir mentir ou contar meias-verdades, julgando que, assim, se protegem das ingerências externas nas suas vidas privadas (esquecendo-se que, caso não sejam eremitas, o público e o privado - não o íntimo, obviamente - têm uma fronteira muito ténue), acabam, dizia eu, por incorrer numa das maiores faltas de carácter que eu conheço: a desonestidade para consigo próprios que acarreta, também, o desrespeito pela integridade dos sentimentos daqueles que os rodeiam.
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
Amigos
Há dias em que até os amigos nos irritam. Ontem foi um desses. Fiquei aborrecida porque ele (o meu amigo) resolveu ofender-se com coisa nenhuma… simplesmente não entendeu o que eu lhe disse e… zás! Preferiu seguir o caminho mais fácil: amuar!
Mas se fosse apenas isso, ainda vá. Não! Achou que ser mordaz, irónico e mandar umas ferroadazitas acabava por lhe dar o prazer que a suposta "ofensa" que eu lhe dirigira exigia em troca e desatou a tecer-me críticas infundadas e a adjectivar de forma exagerada alguns actos que eu praticara e que mereciam a sua discordância (como se ele fosse dono da verdade, francamente!). Não há paciência que chegue para aturar estes fricotes.
Claro que não podia ficar quieta e respondi-lhe à letra. Ou seja, com ironia e muito humor. Enquanto assim agia, a má disposição passou-me e acabei a rir da situação. Logo, quando voltámos a falar, foi como se anda tivesse acontecido.
Enfim.... Os amigos têm destas coisas. O que importa é que se respeitem. Fazem-nos tanta falta que, quando os encontramos, devemos "agarrá-los" bem. Costumo dizer que «faz-me mais falta um mau amigo (se o é nunca chega a ser assim tão mau) do que um bom amante (porque uma relação baseada só no sexo, sem amizade que a suporte, está condenada a ser superficial e, portanto, não serve de apoio emocional)».
Mas se fosse apenas isso, ainda vá. Não! Achou que ser mordaz, irónico e mandar umas ferroadazitas acabava por lhe dar o prazer que a suposta "ofensa" que eu lhe dirigira exigia em troca e desatou a tecer-me críticas infundadas e a adjectivar de forma exagerada alguns actos que eu praticara e que mereciam a sua discordância (como se ele fosse dono da verdade, francamente!). Não há paciência que chegue para aturar estes fricotes.
Claro que não podia ficar quieta e respondi-lhe à letra. Ou seja, com ironia e muito humor. Enquanto assim agia, a má disposição passou-me e acabei a rir da situação. Logo, quando voltámos a falar, foi como se anda tivesse acontecido.
Enfim.... Os amigos têm destas coisas. O que importa é que se respeitem. Fazem-nos tanta falta que, quando os encontramos, devemos "agarrá-los" bem. Costumo dizer que «faz-me mais falta um mau amigo (se o é nunca chega a ser assim tão mau) do que um bom amante (porque uma relação baseada só no sexo, sem amizade que a suporte, está condenada a ser superficial e, portanto, não serve de apoio emocional)».
terça-feira, 21 de agosto de 2007
Soneto de mal-amar
Invento-te recordo-te distorço
a tua imagem mal e bem amada
sou apenas a forja em que me forço
a fazer das palavras tudo ou nada.
A palavra desejo incendiada
lambendo a trave mestra do teu corpo
a palavra ciúme atormentada
a provar-me que ainda não estou morto.
E as coisas que eu não disse? Que não digo:
Meu terraço de ausência meu castigo
meu pântano de rosas afagadas.
Por ti me reconheço e contradigo
chão das palavras joio e trigo
apenas por ternura levedadas.
a tua imagem mal e bem amada
sou apenas a forja em que me forço
a fazer das palavras tudo ou nada.
A palavra desejo incendiada
lambendo a trave mestra do teu corpo
a palavra ciúme atormentada
a provar-me que ainda não estou morto.
E as coisas que eu não disse? Que não digo:
Meu terraço de ausência meu castigo
meu pântano de rosas afagadas.
Por ti me reconheço e contradigo
chão das palavras joio e trigo
apenas por ternura levedadas.
Poema: José Carlos Ary dos Santos
Imagem: Rudolfo Barral
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
Falar de sexo
Continuação.
Na penumbra do quarto, Maria olhava-o de sorriso nos lábios. Adorava vê-lo assim despido, tocar a sua pele morena, saborear cada pedaço do seu corpo nu com a língua, observar cada curva com os olhos do coração, acariciá-lo com os dedos da alma… sempre de espírito aberto à descoberta de novas sensações, deixando a ousadia surpreender os amantes e aproveitar a partilhar dessa intimidade que nos alimenta o ego.
Apesar das horas inesquecíveis que passaram juntos, nenhum dos dois atingiu o clímax. Todavia, por incrível que pareça, isso não os frustrou, ou sequer preocupou. Antes pelo contrário, fê-los desejar voltar a estar juntos e continuar a explorar o corpo de cada um para saciar a sede de sexo que se apoderara de ambos.
Falar de sexo (e admitir que se o pratica com gosto) é abordar um tema que choca muitas mentes, até mesmo no diálogo íntimo entre os parceiros que acabaram de se envolver fisicamente. Como se este fosse um assunto de pervertidos, de gente que tem o deboche como padrão de vida.
Não era, todavia, essa a opinião de Maria, nem tão pouco dele. Quer um quer outro consideravam que, num relacionamento a dois, o melhor de tudo é o caminho que se percorre (e como se percorre) até chegar à sintonia de métodos e formas de expressão corporal, à partilha das emoções sem tabus ou preconceitos, à volúpia sensual entendida numa linguagem empática por ambos os parceiros.
Enfim, o percurso até chegar à integral satisfação das pulsões físicas e ao encontro de um ambiente de perfeita comunhão sexual, parecia a Maria e ao companheiro mais importante do que o mistificado fim orgásmico… que pode ser uma explosão de prazer, ninguém o nega, mas não deixa de ser um momento demasiado efémero.
Em suma, aquela fora uma noite de insónia. Das poucas que Maria passara já que, nem quando estava na faculdade alguma vez fizera uma directa para estudar, ou divertir-se. Nunca fora uma mulher da noite, gostava demasiado da luz do sol e gostava de ver o horizonte à sua frente, nítido e identificável. O escuro assustava-a um pouco, apesar do fascínio que sentia ao ver os efeitos multicolores das luzes de Lisboa sobre as águas negras do rio Tejo a horas tardias.
Desta vez, contudo, o sono (que costuma aparecer sempre a hora certa, para deleite de Maria que adora sonhar) fora parar a outro lado. Chegou a casa às 5h 30m. Teve, apenas, tempo de tomar banho, mudar de roupa e ir para o emprego.
Sentia-se leve e feliz. Passou o dia noutra dimensão, alheada da realidade e sonhando com ele, como se estivesse anestesiada pelas sensações da véspera.
Continua…
Na penumbra do quarto, Maria olhava-o de sorriso nos lábios. Adorava vê-lo assim despido, tocar a sua pele morena, saborear cada pedaço do seu corpo nu com a língua, observar cada curva com os olhos do coração, acariciá-lo com os dedos da alma… sempre de espírito aberto à descoberta de novas sensações, deixando a ousadia surpreender os amantes e aproveitar a partilhar dessa intimidade que nos alimenta o ego.
Apesar das horas inesquecíveis que passaram juntos, nenhum dos dois atingiu o clímax. Todavia, por incrível que pareça, isso não os frustrou, ou sequer preocupou. Antes pelo contrário, fê-los desejar voltar a estar juntos e continuar a explorar o corpo de cada um para saciar a sede de sexo que se apoderara de ambos.
Falar de sexo (e admitir que se o pratica com gosto) é abordar um tema que choca muitas mentes, até mesmo no diálogo íntimo entre os parceiros que acabaram de se envolver fisicamente. Como se este fosse um assunto de pervertidos, de gente que tem o deboche como padrão de vida.
Não era, todavia, essa a opinião de Maria, nem tão pouco dele. Quer um quer outro consideravam que, num relacionamento a dois, o melhor de tudo é o caminho que se percorre (e como se percorre) até chegar à sintonia de métodos e formas de expressão corporal, à partilha das emoções sem tabus ou preconceitos, à volúpia sensual entendida numa linguagem empática por ambos os parceiros.
Enfim, o percurso até chegar à integral satisfação das pulsões físicas e ao encontro de um ambiente de perfeita comunhão sexual, parecia a Maria e ao companheiro mais importante do que o mistificado fim orgásmico… que pode ser uma explosão de prazer, ninguém o nega, mas não deixa de ser um momento demasiado efémero.
Em suma, aquela fora uma noite de insónia. Das poucas que Maria passara já que, nem quando estava na faculdade alguma vez fizera uma directa para estudar, ou divertir-se. Nunca fora uma mulher da noite, gostava demasiado da luz do sol e gostava de ver o horizonte à sua frente, nítido e identificável. O escuro assustava-a um pouco, apesar do fascínio que sentia ao ver os efeitos multicolores das luzes de Lisboa sobre as águas negras do rio Tejo a horas tardias.
Desta vez, contudo, o sono (que costuma aparecer sempre a hora certa, para deleite de Maria que adora sonhar) fora parar a outro lado. Chegou a casa às 5h 30m. Teve, apenas, tempo de tomar banho, mudar de roupa e ir para o emprego.
Sentia-se leve e feliz. Passou o dia noutra dimensão, alheada da realidade e sonhando com ele, como se estivesse anestesiada pelas sensações da véspera.
Continua…
domingo, 19 de agosto de 2007
Poema sobre a recusa
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.
Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.
sábado, 18 de agosto de 2007
Fazer amor
sexta-feira, 17 de agosto de 2007
A descoberta do prazer
Anterior
Passaram a noite a conversar e a fazer amor, explorando cada gesto e o prazer que dele obtinham, gozando breves momentos de silêncio numa partilha sensorial que as palavras eram insuficientes para descrever.
Entre segredos sussurrados, sucederam-se as confidências… e o diálogo prosseguiu com ambos deitados na cama, abraçados e descontraídos. Voltaram a fazer amor de uma forma mais contida, não dando pelo passar das horas.
Maria sentia-se nas nuvens. Por incrível que pareça, fora aos quarenta anos que, pela primeira vez, conseguira desinibir-se o suficiente para gozar em pleno todas as sensações que o acto sexual tinha de sublimes, quando praticado com o parceiro certo.
Sem saber bem explicar como o conseguira, esqueceu todos os complexos que, até ali, haviam atrofiado a expressão natural dos seus afectos por outrem, sentiu-se bela e desejada. Não era suficientemente bonita? Tinha uns quilos a mais? Naquele momento, surpreendentemente, nada disso lhe importou e, liberta daqueles constrangimentos, gozou cada momento de uma forma intensa, quase mística, tal era o prazer que sentia por o ter ali a seu lado e poder observar, olhos nos olhos, que a satisfação era mútua.
Era tudo tão diferente do que já tinha vivido, que não conseguia parar de se surpreender. Talvez por isso, suspirava a cada carícia mais ousada e vibrava de cada vez que o seu corpo pedia, compulsivamente, que ele a possuísse.
Absorta numa áurea de sensualidade, Maria transformou-se numa outra mulher, mais audaz, desavergonhada até, sequiosa de prazer… para dar e receber, saboreando, deleitada, cada um.
Continua…
Passaram a noite a conversar e a fazer amor, explorando cada gesto e o prazer que dele obtinham, gozando breves momentos de silêncio numa partilha sensorial que as palavras eram insuficientes para descrever.
Entre segredos sussurrados, sucederam-se as confidências… e o diálogo prosseguiu com ambos deitados na cama, abraçados e descontraídos. Voltaram a fazer amor de uma forma mais contida, não dando pelo passar das horas.
Maria sentia-se nas nuvens. Por incrível que pareça, fora aos quarenta anos que, pela primeira vez, conseguira desinibir-se o suficiente para gozar em pleno todas as sensações que o acto sexual tinha de sublimes, quando praticado com o parceiro certo.
Sem saber bem explicar como o conseguira, esqueceu todos os complexos que, até ali, haviam atrofiado a expressão natural dos seus afectos por outrem, sentiu-se bela e desejada. Não era suficientemente bonita? Tinha uns quilos a mais? Naquele momento, surpreendentemente, nada disso lhe importou e, liberta daqueles constrangimentos, gozou cada momento de uma forma intensa, quase mística, tal era o prazer que sentia por o ter ali a seu lado e poder observar, olhos nos olhos, que a satisfação era mútua.
Era tudo tão diferente do que já tinha vivido, que não conseguia parar de se surpreender. Talvez por isso, suspirava a cada carícia mais ousada e vibrava de cada vez que o seu corpo pedia, compulsivamente, que ele a possuísse.
Absorta numa áurea de sensualidade, Maria transformou-se numa outra mulher, mais audaz, desavergonhada até, sequiosa de prazer… para dar e receber, saboreando, deleitada, cada um.
Continua…
quinta-feira, 16 de agosto de 2007
Promessas
«Pedir a uma pessoa que faça uma promessa é um sintoma de dúvida e, contudo, se não se puder confiar numa promessa, em que é que se poderá confiar? (...) Quando as palavras são insuficientes algo as substitui...»
«Na cama, as pessaoas dizem "amar-te-ei sempre" ou "ser-te-ei sempre fiel" e, geralmente, estão também enganadas. (...) Se é verdade que a vida da maioria das pessoas consiste principalmente na expectativa daquilo que está para vir, uma promessa poderá parecer uma benção, mas no seu horizonte está com mais frequência uma despedida do que um futuro.»
Darian Leader, Promessas que os Amantes fazem quando começa a ser tarde
Imagem: A rosa meditativa, de Salvador Dali
quarta-feira, 15 de agosto de 2007
Mentiras
«Mentiram um ao outro, é claro, como fazem todos os apaixonados, mas estas mentiras continham muitíssimas verdades, porque cada um falava do eu que aspirava ser, muito mais real, no fundo, do que o eu que verdadeiramente era.»
Lúcia Etxebarría, in O visível e o invisível
Imagem: tirada DAQUI.
terça-feira, 14 de agosto de 2007
Como tudo começou
Chegaram a casa dele era já meia-noite. Começaram por ouvir um CD do Oliver Shanti, mas depressa resolveram escutar outras sonoridades: desde Eric Clapton, Milton Nacimento, Caetano Veloso, Sérgio Godinho, entre muitos outros (do blue ao jazz... eu sei lá!).
Sentada no chão, de olhos fechados, com a cabeça entre as pernas dele (que se encontrava sentado no sofá), ela foi ouvindo a música com emoção, cuja selecção era feita por ele com mestria. Depois do jantar e da ida ao teatro (tinham ido ver uma excelente peça intitulada "Dois perdidos numa noite suja"), aquela estava sendo uma noite perfeita.
De repente, as mãos dele pousaram nos ombros dela e foram massajando suavemente. De imediato, Maria sentiu um arrepio na espinha e um calor subindo-lhe pelo peito. Tentou disfarçar o seu intenso nervosismo (embora o negasse), mas a perturbação que aquele toque provocava nela era por demais evidente: o despertar do desejo adormecido, uma louca e libidinosa vontade de o beijar e abraçar...
Da timidez do primeio beijo, suave e fugidio, das carícias contidas e dos afagos controlados, passaram, num ápice, à sofreguidão dos gestos incontrolados.
Continua...
Imagem: Vladimir Kush
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
Escrever
«Escrevo para criar um espaço habitável da minha necessidade, do que me oprime, do que é difícil e excessivo. Escrevo porque o encantamento e a maravilha são verdade e a dedução é mais forte... porque o erro, a degradção e a injustiça não devem ter razão... para tornar possível a realidade, os lugares, os tempos, as pessoas... para evocar e fixar o percurso que realizei, as terras, gentes e tudo o que vivi e só na escrita eu posso reconhecer. Escrevo para tornar possível o mistério das coisas. Escrevo para ser. Escrevo sem razão.»
Virgílio Ferreira, in Pensar.
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